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O cientificismo e a promoção do aborto

Escrito em 09/2015


Na raiz da promoção massiva do aborto também está a falta de uma visão da vida como algo sagrado, ou como um mistério. O homem atual sente-se dominador da natureza, e não como administrador. Será que a Ciência não é culpada disso? Afinal, foi a Ciência que nos deu poder de manipular a natureza e portanto, em última análise, só por causa do poder que ganhamos dela é que nos sentimos donos da natureza.
Na realidade o argumento está mal colocado. É verdade que a Ciência nos deu poder sobre a natureza (ainda que limitado). Mas esse poder não é mau em si, pois pode ser empregado de uma forma boa ou má. Mais uma vez estamos diante do grande dilema existencial humano: fomos criados livres por Deus. Cabe a cada um de nós escolher qual caminho tomar e arcar com as consequências.
A Ciência é algo desejado por Deus desde o princípio pois é um fruto natural da inteligência humana, dom do Criador. Quando bem utilizada, faz com que admiremos a Criação e encontremos nela reflexos de Deus. Eu diria até mais, que quando a pesquisa científica é orientada de acordo com os princípios éticos da lei natural colocada por Deus no coração de todos os homens, essa Ciência contribui para os desígnios de Deus no mundo. Ou seja, a boa pesquisa científica faz parte dos muitos e tão diversos mecanismos que a Providência Divina utiliza para levar o mundo ao fim último desejado pelo Criador.
Um cientista que trabalha de acordo com a reta razão, acredite em Deus ou não, irá encontrar-se com o mistério no seu trabalho. Normalmente, esse mistério se revelará por meio da beleza da natureza. Mas também poderá aparecer na bondade de todas as coisas que notavelmente estão ordenadas para uma harmonia entre si. Além disso, as grandes leis que regem os fenômenos naturais são coerentes entre si e formam uma espécie de tecido lógico impressionante e mais admirável ainda por ser compreensível para nós. Ou seja, o cientista que usa bem sua razão irá encontrar na natureza os atributos de Deus: a beleza, a bondade e a verdade.
Mas o que significa um cientista agir com a reta razão? Significa muitas coisas, mas principalmente que ele não extrapola para além do mundo material as conclusões empíricas que a Ciência lhe permite obter. A Ciência fala sobre o mundo material, não sobre o que lhe causou ou sobre a finalidade para que foi criado.
Entretanto, muitos cientistas querem passar a ideia de que a Ciência permite concluir sobre as razões e as finalidades do universo, algo que é um abuso tremendo e que comumente chamamos de cientificismo, ou seja, uma espécie de doutrina científica que não encontra fundamento na própria Ciência mas que mesmo assim é assumida por muitas pessoas. Cabe denunciar este cientificismo sem, no entanto, confundi-lo comCiência em si.
A consequência mais imediata do cientificismo é fazer o homem esquecer que a natureza foi criada e que não lhe pertence. Ou seja, que desde o início Deus nos colocou como meros administradores da sua criação e nos convidou a levá-la à plenitude com Ele, dando-nos um poder imenso de sermos co-criadores através do nosso trabalho.
Para o cientificista é lícito fazer qualquer violência à natureza desde que lhe seja conveniente. Muitos mascaram essa “conveniência” sob causas “bonitas”. É o caso das células tronco embrionárias, da eugenia, do aborto de tantos outros crimes contra a vida que são justificados com algo bom para o ser humano, como uma terapia ou a simples escolha de fazer da própria vida o que se quiser.
Não vou entrar no mérito destes argumentos, mas quero sublinhar que no fundo eles têm uma origem comum: ganhamos tanto poder sobre a natureza com a Ciência que não percebemos mais o caráter sagrado da natureza como Criação de Deus. Muitos a veem como um meio para satisfazer os desejos do homem.
Só a fé cristã permite conciliar plenamente a Criação e a Razão que Deus nos deu. É somente sob a perspectiva de sermos também nós criaturas de Deus e de estarmos aqui para cumprir um desígnio sagrado que podemos tomar consciência de que a natureza deve ser usada para este mesmo desígnio e que não temos o direito de fazer violência contra a própria identidade das coisas.
Dizer que a vida humana só começa na 14ª semana de gravidez (ou qualquer outra semana) é um exemplo de como distorcemos a própria identidade das coisas. Não podemos estabelecer um momento para quando começa a vida humana. Não importa quando surgem as faculdades neurológicas do feto, ou quando ele tem ou não condições de sobreviver fora do útero materno. De modo mais geral, nada que possa ser dito sobre as atividades naturais do feto pode ser usado como determinante do início da vida. Fazendo uma regressão extrema, nem mesmo o momento da entrada do espermatozoide no óvulo pode ser usado, pois não acontece num instante, mas num espaço de tempo.
Não podemos cair no jogo de discutir quando a vida começa, pois a questão não é essa, mas se temos ou não o direito de interferir. O começo da vida está cercado de mistério, pois é o início da existência de todo ser humano. Tentar definir esse momento é assumir que a vida humana é algo somente natural e esquecer que temos alma, que fomos desejados desde toda a eternidade por Deus Criador e que também somos suas criaturas. Respeitar o caráter sagrado da vida é algo que só faz sentido se limitamos a Ciência ao seu lugar correto de método investigativo e não tentamos usá-la inapropriadamente para validar filosofias malignas.
É plenamente possível e necessário conciliar a Fé cristã com a Ciência. Somente assim poderemos admirar a criação e levá-la ao fim determinado pelo seu Criador. A vida, especialmente a vida humana, um grande mistério, que o cientista deve aprender a admirar e aceitar que não pode ser violado.

Ser pai

Com o nascimento do menino Jesus no lar de Nazaré, sob os cuidados de São José, Deus quis que o “ser pai” acontecesse dentro do “ser família”. Ao dar a vocação matrimonial, Deus também dá a vocação da paternidade. Assim, conclui-se que para ser bom pai, é preciso antes ser bom marido. De fato, é do amor entre os cônjuges que nascem os filhos e também é nesse amor que é gerado o amor por eles. É importante colocar desde o início a indissolubilidade entre essas duas vocações porque é a partir dela que se pode construir um raciocínio correto sobre o significado de ser pai aos olhos da nossa fé.
São João Paulo II resume de maneira muito clara o “ser pai”: “O seu amor paternal é chamado a tornar-se para os filhos o sinal visível do próprio amor de Deus” (Familiaris Consortio, 14). Como é grande essa missão, pois do relacionamento dos filhos com o pai da Terra depende seu relacionamento com o Pai do Céu!
Os filhos aprenderão as virtudes sobrenaturais a partir das virtudes humanas vividas e ensinadas pelo pai. Como ter fé (sobrenatural) em Deus se não aprenderam a confiar (fé humana), antes, no próprio pai? Como negarão generosamente suas próprias vidas se o pai sempre foi um egoísta, centrado no seu trabalho e nos seus assuntos, sem tempo para a esposa e os filhos?
Uma parcela não desprezível das pessoas com crise de fé hoje têm, na verdade, uma crise de obediência. Não aceitam colocar-se sob o critério da Igreja, sob o critério de dois milênios de ensinamento. Não será porque nunca aprenderam a obedecer ao pai? A respeitar seu papel de líder da família, de bússola da casa?
Dada a importância da paternidade, é preciso aprender uma verdadeira “pedagogia da paternidade”. Deus dá a vocação, mas não exclui a necessidade de estudo e preparação. É necessário ler materiais de bom critério sobre como ser bom pai. Estudar a psicologia da criança, do adolescente e do jovem para saber estimular corretamente os filhos. A preparação, por sua vez, consiste em boa medida na vivência da Graça. Procurar os sacramentos, ter uma vida de oração intensa, constante, profunda, de onde virão as luzes para o dia a dia do pai.

Na Audiência Geral de 29 de maio de 2013, lembrando da parábola do filho pródigo, o papa Francisco exortou os jovens a serem pais e lembrarem-se que “Deus é nosso Pai, criou-nos, deu-nos os nossos talentos e guia-nos no caminho da vida. Está conosco apesar das nossas fraquezas, dos nossos pecados e das nossas faltas, é modelo de paternidade”. Urge que um pai saiba ser exigente e misericordioso. A parábola do filho pródigo, com o filho que fica e o filho que se vai e volta, será sempre fonte inesgotável de reflexão para como exigir com misericórdia, que é, no fundo, o mesmo dilema de educar sem tirar a liberdade. Que São José interceda por cada um de nós.


07/2014

Ter um filho, ou um cão?

Convivemos com vários casais que não têm filhos, muitos têm cães ou outros animais de estimação. Certa vez, um colega nos disse que o cachorrinho era sua criancinha e que todo casal deveria ter um cão antes de ter um filho, para treinar! Já tivemos cães e temos filhos; garantimos que cuidar de humanos é infinitamente melhor e, também, mais recompensador. Além disso, o casamento foi pensado por Deus para formar família, não para satisfação própria do casal ou para cuidar de animais. De fato, na cerimônia do casamento pergunta-se aos noivos: “Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?”
O Catecismo da Igreja Católica ensina que o Matrimônio é uma verdadeira vocação cristã (CIC 1602-1605), ou seja, quem tem vocação para o casamento, é chamado por Deus a ser santo através desse sacramento. A santidade é meta para todos os batizados e deve ser atingida por meio da “plenitude da vida cristã e [da] perfeição da caridade” (Lumen Gentium, 40). A vida do cristão torna-se plena quando ele procura viver as virtudes cristãs de modo heroico, numa entrega alegre e sem limites aos planos de Deus. O que há de mais belo nisso é que Deus mesmo nos dá graça para alcançarmos uma meta tão elevada como a santidade. Mas precisamos confiar totalmente nEle. Quando se trata de vocação e santidade, não há lugar para meias-entregas. O Senhor nos quer por inteiro.
A virtude da generosidade é a chave para concretizar essa entrega a Deus na vocação em que Ele nos chamou. O marido e a esposa devem compreender que o único modo de cumprirem o desejo de Deus para eles é a entrega abnegada no casamento. Generosidade na fidelidade, no emprego do tempo, no empenho em amar mais, na doação total de si, e na geração e educação dos filhos. Sendo esta última justamente a finalidade do matrimônio que é o seu “ponto alto” e “coroa” (CIC 1652). Para aqueles que têm vocação ao matrimônio, gerar e educar os filhos que Deus lhes der é o caminho concreto para alcançarem a santidade. Naturalmente, o matrimônio é um bem para os esposos em si, e por isso, mesmo aqueles que não podem ter filhos, santificam-se por meio desse sacramento.
Entretanto, é preciso ir além de simplesmente ter um filho. Se o casal entende que o casamento é uma vocação à santidade e que os filhos são parte concreta dessa vocação, então poderão concluir que a generosidade no número de filhos é algo que Deus espera deles. Esclarecendo: Deus não vai indicar um número concreto de filhos: quatro filhos para a Maria e o João, sete para a Clara e o Tiago. Nada disso, Ele pede que o próprio casal decida isso, mas mais importante: tome essa decisão com extrema generosidade. O papa Francisco, em uma homilia do dia 27 de maio do ano passado, comentou que, hoje em dia, infelizmente muitos pais católicos comportam-se como egoístas pois pensam: Não, eu não quero mais um filho, porque não poderemos viajar de férias, não poderemos ir a tal lugar, não poderemos comprar uma casa! (...) Nós queremos seguir o Senhor, mas até certo ponto”.
Constituir uma família numerosa: quatro, sete, dez ou mais filhos, é sem dúvida um grande desafio. É preciso aprender a esquecer de si próprio. Todo traço de egoísmo deve ser eliminado, mas só há vantagens nisso! Os filhos aprendem uns com os outros as virtudes da boa convivência. A escola da generosidade dos pais marca a vida de todos eles. Nunca se sentem sozinhos (que tristeza desses filhos únicos brincando nos parquinhos!). Todos têm suas tarefas para manter o lar arrumado e crescem conhecendo e respeitando o valor do trabalho bem feito. Certamente também há dificuldades financeiras, mas não são as maiores. Se fosse assim, os ricos teriam muitos filhos, e não é o caso.
Infelizmente, os casais que optam por ter mais filhos costumam encontrar grandes resistências na própria família. ais, tios e irmãos que os amam e lhes desejam o bem, julgam essa escolha como muito penosa e se opõem a ela. No fundo, não há uma confiança na Providência e não compreendem quais são os planos de Deus para o matrimônio. Costumam dizer que ter muitos filhos é “coisa do passado”, quando então deviam ajudar no trabalho do campo. Mas filhos não são cavalos! Hoje as mulheres estudam e têm uma profissão, e por isso muitos pensam que é um desperdício de vida estar em casa cuidando das crianças: é mais importante cultivar o ego construindo uma carreira! Também ouve-se muito que antigamente a vida era mais fácil, mas isso é mentira. Hoje temos mais acesso à saúde, mais escolas, mais opções de lazer e tecnologias que facilitam o trabalho. Atualmente quantos ainda lavam roupas à mão?
Um filho é sempre uma grande alegria para o casal. Certamente custa tempo, dinheiro e esforço, mas vale tudo isso e muito mais! Peçamos que Deus nos ajude a viver o casamento como verdadeira vocação à santidade, e a ter uma visão mais cristã da vida, para julgarmos sempre de acordo com os planos de Deus se podemos acolher mais um filho, ainda que já tenhamos muitos. Afinal, viver bem nossa vocação matrimonial é levá-la adiante com generosidade heroica, numa entrega sem limites aos planos de Deus, que são planos de vida, não de egoísmo.


02/2014