A Igreja Católica tem uma antiquíssima tradição na Astronomia. Há vários livros publicados sobre o assunto, como por exemplo The Sun in the Church: Cathedrals as Solar Observatories (ainda não traduzido para o português, O Sol na Igreja: Catedrais como Observatórios Solares), de John Heilbron, um famoso historiador da Ciência americano, que conta como as principais catedrais da Europa serviram por muito tempo como observatórios do Sol. Outro livro interessante é In the service of 9 popes: 100 years of the Vatican Observatory (também não foi traduzido para o português, A serviço de 9 papas: 100 anos do Observatório do Vaticano). Esse livro foi escrito por jesuítas que contam a história do Observatório Astronômico do Vaticano.
O Observatório Astronômico do Vaticano foi fundado em 1891 pelo papa Leão XIII como meio de oficializar um trabalho que os jesuítas já vinham fazendo há séculos pela Igreja: estudar Astronomia e promover um diálogo com o mundo científico. A Igreja tem uma longa lista de padres jesuítas que deram contribuições importantes para a Astronomia, já escrevi sobre o assunto em outros artigos.
De todas as contribuições do Observatório, uma das mais interessantes é a Escola de Verão, que é promovida a cada dois anos, desde 1986. No momento estão abertas as inscrições para a 15ª edição, que acontecerá em 2016. O formato da Escola é tradicional na Astronomia: reúne-se um grupo de pós-graduandos na área para discutir um assunto específico por um mês. Geralmente são reunidos cerca de 30 estudantes de todo o mundo. Eu tive a sorte de participar da Escola de Verão de 2007, e foi uma experiência única. As atividades acontecem em Roma e são financiadas em parte pelo Vaticano e em parte pelas agências de pesquisa dos países dos alunos, onde eles conseguem contribuições para cobrir seus custos. Não há nenhum critério religioso na seleção dos alunos.
O tema da próxima Escola será “Água no Sistema Solar e além dele”. É um tema muito atual da pesquisa na área, ligado à busca de vida em outros lugares do universo e também às pesquisas sobre exoplanetas (planetas que orbitam outras estrelas, distantes de nós). Aliás, exoplanetas foi o tema da Escola em 2007, quando eu participei.
A Escola é organizada pelos astrônomos do Observatório mas os Professores são selecionados entre os maiores pesquisadores do mundo. Os temas das Escolas sempre são assuntos em alta na Astrofísica: galáxias, aglomerados estelares, evolução do universo, cosmologia, busca de vida fora da Terra, nascimento e evolução estelar, etc.
É muito significativo que a Igreja apoie este tipo de evento e promova um diálogo com o mundo da Ciência através dos jesuítas. Entretanto, mais importante ainda é que nós leigos estejamos cientes de que não há oposição alguma entre nossa Fé e a Ciência e que é nosso papel levar adiante as atividades de pesquisa entre colegas que não compartilham da nossa Fé.
Se você que é estudante universitário, ou aluno de pós-graduação trabalhando na sua pesquisa, em laboratórios de ponta na universidade ou em empresas de desenvolvimento tecnológico, deve mostrar com sua vida e com palavras que nós temos mais razões do que qualquer outro para fazermos pesquisa. Para nós, as leis da Ciência são palavra de Deus. Se você não trabalha com pesquisa, deve manter-se atualizado na área, para estar pronto para conversar sobre o tema e mostrar como ele pode iluminar a Fé e ela pode iluminá-lo também.
A Ciência hoje corre alguns riscos muito grandes, que podem ter reflexos perigosos para a humanidade. Em particular, a ética sem alicerce na Lei Natural nos levará a loucuras como a Eugenia e outras monstruosidades da biologia. Mas também há o perigo de uma cultura dominada pela técnica, onde somente o novo, o mais moderno, tem vez. Tudo aquilo que já não é novidade deve ser descartado. O que não for imediatamente útil também. O papa Bento XVI falou muito disso no seu pontificado e o papa Francisco continua a fazer essa denúncia.
Precisamos estar atentos, ser excelentes e profissionais no que fazemos. Podemos dar contribuições verdadeiramente importantes na Ciência e só nós podemos trazer a Luz verdadeira para dentro dela. Além disso, nossa participação fomentará um diálogo com o resto da comunidade. É preciso desenvolver uma linguagem adequada para compreender e aprender com o mundo científico e para que ele também compreenda a Fé. Um verdadeiro dom de línguas que nasce do interesse verdadeiro pela Ciência, sua maneira de acontecer e de pensar sobre o universo.
05/2015
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