Sim! O sofrimento tem sua importância

Escrito em 01/2008


O mundo, hoje, vive a “ditadura do prazer”. É um clichê, eu sei, mas recooa na minha cabeça de tal forma que é impossível ignorá-lo. Em toda direção, em toda crise pessoal, profissional ou familiar, é possível ver traços nítidos da ação destruidora dessa ditadura.
As pessoas casam-se ao primeiro palpitar da paixão. Separam-se também, à primeira lágrima. Explicam: como viver juntos sem amor? Mas, pergunto-me, alguém amou? Paixão não é mais do que amor a mim mesmo. Quem ama perdoa. Não é assim que se diz? Alguém perdoou ao rolar da primeira lágrima? É a “ditadura do prazer”. Se eu já não sinto prazer em cada mísero detalhe desta relação, então ela perde todo o significado. É tudo ou nada. Meu prazer, minha plena e absoluta satisfação, ou nada!
Os pais repetem desde cedo aos filhos, “Estude pra ser alguém quando você crescer”. Mas não definem “alguém”. Não precisa, a gente sabe bem quem é. É o sujeito idealizado que tem um belo salário e faz o que gosta. Pareceria tudo bem, não fosse o fato de haver uma mensagem subliminar nessa frase. Faz somente o que gosta. Não admite-se que o sujeito tenha desprazeres na sua profissão. Então ele cresce, se forma e quando encara o mercado de trabalho se desilude. Claro! Ele descobre o óbvio; seu trabalho é parte bom e parte ruim. Ah - diz ele - assim eu não quero! Não me disseram isso. Não quero mais “brincar” disso. Quero outra profissão, outro emprego. Meu prazer, minha plena e absoluta satisfação, ou nada!
Mas também pode acontecer o contrário. O sujeito descobre que gosta pra valer do seu trabalho. É até melhor do que ele esperava. Aí ele se torna um “workaholic”, um viciado no trabalho. Não existe mais nada que o impeça. Nem mesmo a necessidade da sua família. Ela tem que entender, afinal, é o trabalho dele! Eles que deixem de ser tão egoístas. Thomas Friedman, no livro “O mundo é Plano”, cita que a China vive uma explosão de divórcios. Entre as teorias correntes, uma afirma que é fruto da política de um filho por casal, que gera indivíduos egoístas, e a pressão por eficiência profissional, que gera workaholics em série. O fatídico matrimônio da “fome com a vontade de comer”, pra não esquecer dos clichês.
A resposta à crise é antiga. A liturgia católica canta “Salvador do mundo, salvai-nos. Vós que nos libertastes pela cruz e ressurreição”. A liberdade, a ressurreição de Jesus, passa pela cruz. A alegria, passa, depende do sofrimento. Sim, o sofrimento tem seu papel, sua importância. É preciso retomar a importância do sofrimento como parte do caminho para o prazer. Não é masoquismo. É mais sutil que isso. Faz parte da essência humana a necessidade de se doar aos outros para ser feliz. O homem precisa tirar o foco de si para se sentir completo, feliz. Ele não se basta. Quando faz isso, admite o sofrimento do seu caminho. Claro que uma sociedade que tornou o “prazer” seu deus (hedonismo) não será capaz de aceitar isso. Enquanto a sociedade hedonista for partidária desta ditatura absurda, vai ter que buscar uma explicação para o óbvio: quanto mais eu procuro o meu prazer, mais sofrimento eu encontro. E não é só o meu sofrimento.

Um comentário:

  1. Muito bonito, mensagens, textos assim são muito bons para nos ajudar a refletir nosso valores e pensamentos sobre o mundo de hoje.

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