Escrito em 10/2015
Por ser professor universitário e católico, costumo receber perguntas de estudantes universitários católicos que têm dificuldades na universidade com professores e colegas que não são católicos. Relatos de preconceito, ironias e piadas são comuns. Geralmente me perguntam como agir para serem coerentes com sua fé e ao mesmo tempo não colocarem-se desnecessariamente em uma situação de risco acadêmico. Além disso, gostariam de poder ajudar as pessoas que lhes agridem, mostrando a beleza da fé. Nesse artigo vou responder à pergunta com mais detalhes do que costumo fazer por e-mail.
Antes de tudo devemos lembrar que somos chamados a amar, compreender e desculpar. Você não deve sentir raiva da pessoa. Por mais ofendido que possa ter sido, deve procurar compreender aquela atitude e cobri-la com milhares de desculpas e razões para ter agido daquele modo. Não é assim que uma mãe faz com aqueles pequenos erros que um filho comete? “Ah, tadinho, está com fome, está cansado, está entediado …”, ou então, “ele ainda é muito novinho, não entende essas regras de adultos”. Sempre podemos fazer o mesmo: “coitado, nunca teve contato com o verdadeiro Evangelho, só versões deturpadas e simplificadas”, “não conhece História a fundo”, “teve alguma dificuldade na vida e colocou a culpa em Deus”. Provavelmente você irá acertar, pois como dizia o bispo americano Fulton Sheen: "Não há cem pessoas nos EUA que odeiam a Igreja Católica, mas existem milhões que odeiam aquilo que pensam ser a Igreja Católica".
O primeiro passo precisa (necessariamente!) ser esse acolhimento da pessoa que lhe agride. Sem isso, você irá querer agredi-la também, e assim não poderá ajudá-la. A agressão pura e simples nunca é boa. Você pode até dizer palavras duras como resposta, mas essas palavras precisam ser ponderadas na caridade, caso contrário, não serão um remédio (amargo às vezes), mas sim um instrumento que fere.
Outra razão para procurar desculpar a pessoa é que assim você poderá começar a trabalhar o segundo passo: por que ela age assim? Você precisa “entrar” na mente e no coração dessa pessoa. Nunca esqueça que nós agimos sempre com a mente e o coração (razão e sentimentos), e que nosso agir depende muito da nossa história pessoal. Você precisa se tornar próximo, verdadeiramente amigo daquela pessoa para poder conhecê-la e ajudá-la. Como um médico poderia tratar um doente se não quisesse gastar tempo em descobrir a doença que acomete o paciente? Veja-se como um médico, médico de almas, e que foi colocado pela Providência Divina junto daquela pessoa para ajudá-la.
Quando se trata de um professor universitário, valem algumas dicas que em geral nos ajudam a encontrar o problema com mais facilidade. Você precisa saber que o defeito mais comum (quase unânime!) dos professores universitários é a soberba. Há uma piada que diz que depois do doutorado as pessoas se tornam PhDeuses (uma brincadeira com o nome do título de doutor fora do Brasil: PhD). Infelizmente, a maioria dos professores universitários sofre de vanglória e vaidade. Se vangloriam de saber muito e acreditam ser admirados por todos. Consideram-se o que há de melhor na sociedade porque estudaram muito e são cientistas. Claro que isso é uma bobagem, e é evidente que estão errados. Sabem muito só de uma área (às vezes nem isso!) e não são admirados pelas outras pessoas só porque têm doutorado.
Assim, você precisa tomar cuidado quando contraria um professor, especialmente se for na sala de aula e na frente de outros alunos, pois provavelmente ele é soberbo e a vaidade o tornará muito agressivo. Em geral os professores soberbos consideram os alunos como muito ignorantes e por mais que você possa usar os argumentos mais sábios, mais bem elaborados, não será em uma discussão na frente de toda a turma que você sairá ganhando. Aliás, nem deveria pensar em ganhar discussões, evangelizar não é ganhar discussões. O que você provavelmente ganhará será um problemão com um professor ofendido no seu pé. A sala de aula é o templo do professor orgulhoso. É lá que ele tem poder e é admirado pelos alunos. Eu tive um professor de Cálculo que dizia que só ele podia tirar a nota máxima, por melhor que o aluno fosse na prova, ele sempre encontrava algo para descontar, nem que fosse a letra feia!
Infelizmente, esta visão inferior dos alunos que os professores universitários mantém é alimentada muitas vezes pelos próprios alunos que, não raro, são péssimos estudantes e muito pouco comprometidos com as disciplinas. Para você ganhar respeito do seu professor, mostre empenho no estudo, ordem nas suas anotações e manifeste interesse em entender a matéria, não somente em tirar uma nota boa. Procure-o para fazer perguntas sobre as questões difíceis, não falte às aulas, vá bem vestido (uma parte considerável dos meus alunos vêm vestidos como se estivessem indo à praia! Já tive aluno descalço na sala -- e o celular dele mostrava que não era por falta de dinheiro).
Com o passar do tempo, tendo caridade pelo seu professor e tendo ganhado o respeito dele por ser bom aluno, vá procurando falar com ele a sós das piadas e ironias que ele faz na sala. Procure deixar claro que além de você há vários outros estudantes que são ofendidos por ele e que não falam nada por medo de retaliações. Acredito que ele irá mudar o comportamento. Se houver abertura, vá falando da sua fé para ele.
Com os colegas o apostolado deve seguir o mesmo esquema. A maioria dos estudantes universitários que se diz ateu é tão soberbo quanto os professores. Além disso, como os professores, também foi muito mal formado na fé e em assuntos de humanidades, como História e Filosofia. Mesmo nos departamentos de humanas é possível constatar uma imensa ignorância nessas matérias, pois costumam estudar somente uma dúzia de autores favoritos e que pensam todos de forma igual. Faça o teste, escolha um autor -- moderno ou não -- que escreva fora da linha ideológica marxista e verifique que a maioria nem mesmo o conhece!
Para encerrar, gostaria de fazer uma advertência. As meninas não devem procurar fazer apostolado com os professores homens, assim como os rapazes não devem fazer apostolado com as professoras. Provavelmente seu professor(a) é casado(a) ou tem namorada(o). Além disso, mesmo que não seja o caso, o envolvimento de alunos com professores é muito antiético. Nestes casos, você deveria procurar por um(a) colega que têm fé e pedir ajuda, explicado que você não pode se tornar próximo de uma pessoa que é casada pois isso poderia acabar mal.
O apostolado direto passa por tornar-se amigo da pessoa, amigo íntimo, em compartilhar das alegrias e penas da vida. Uma relação íntima assim pode acabar em paixão quando se trata do sexo oposto e todo cuidado é pouco nestes casos. São Josemaria Escrivá dizia que para ajudar um amigo podemos ir até às portas do inferno, mais não, pois lá dentro já não se pode mais amar a Deus. O conselho vale para essa situação, pois que tipo de ajuda você dará para a pessoa fazendo-a pensar em adultério?
Por fim, mesmo que você não consiga se aproximar do seu professor ou colega, a sua atitude de bom estudante, de católico coerente e que vive sua fé com profundidade e naturalidade, de bom amigo, irá chamar a atenção. Talvez não dessa pessoa, mas de outra que Deus colocou do seu lado para ser ajudado e você nem tenha reparado. Muitas palavras de fé que dizemos hoje só vão germinar anos mais tarde, em algum momento decisivo da vida. Tenha fé, todos procuram a Deus, mesmo o professor mais soberbo da sua universidade, e não será um arcanjo que irá falar do Reino dos Céus para essa pessoa, mas você.
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