O homem veio do macaco? (parte VI)

Escrito em 07/2015


Encerro a minha série de artigos sobre a evolução tratando da origem do ser humano segundo as teorias científicas modernas e a Bíblia. É um assunto delicado, cercado de erros e incompreensões, tanto por parte dos cientistas como das pessoas religiosas. É difícil ver a questão tratada simultaneamente de maneira satisfatória desde os dois pontos de vista. O título do artigo, por exemplo, é uma pergunta muito repetida, embora não esteja formulada corretamente. Coloquei assim propositalmente para chamar a atenção.
A resposta à pergunta do título é não. O homem não veio do macaco. Nem poderia, pois não houve tempo suficiente para o ser humano evoluir do macaco e, caso tivesse havido, o macaco já não seria mais macaco hoje, mas outra criatura. O correto é dizer que o homem e o macaco compartilham um ancestral comum, do qual ambos evoluíram, num processo lento e gradual, que levou milhões de anos.
O surgimento do ser humano moderno levou muito tempo. Não é exato colocar uma data fixa, mas pode-se falar em uma escala cronológica para habilidades e características físicas que consideramos fundamentais. Por exemplo, caminhar sobre os dois pés. Estudos de fósseis nos indicam que isso deve ter começado a acontecer há seis milhões de anos atrás, mas levou até dois milhões de anos para que surgissem os primeiros primatas capazes de locomover-se exclusivemante de maneira bípede. Essa característica pode ser identificada com confiança nos fósseis, já que para caminhar sobre os dois pés é necessário ter um quadril adequado e outras estruturas ósseas adaptadas.
A tecnologia e o domínio da natureza também são características importantes do ser humano. Os registros arqueológicos mais antigos de ferramentas datam de 2 milhões e seiscentos mil anos atrás. Mas ainda não existia a espécie humana, nessa época havia um ancestral nosso, o australopitecus, que por um bom tempo acreditou-se ser nosso ancestral direto na evolução. Hoje já foram descobertos fosseis de outros hominídeos que parecem ser mais antigos que o australopitecus mas que têm mais características anatômicas como as humanas.
De todos os registros fósseis encontrados, o homem de Neandertal é o que mais se assemelha a nós. De fato, acredita-se que ele inclusive conviveu com seres humanos, e que os dois grupos lutaram pela sobrevivência, levando a extinção dos neandertais.
A saga da evolução humana começou a ser contada com base em registros fósseis há pouco tempo. Foi há menos de cem anos que começamos a ter um número mínimo de fósseis para poder começar a falar em uma linha evolutiva humana. Há uma grande corrida nos dias de hoje para descobrir detalhes da nossa evolução. Todo ano surgem novos registros e as teorias ficam mais sofisticadas, para dar conta da diversidade de fósseis, da genética e da tentativa de traçar onde o homem surgiu e por onde passou até dominar o planeta inteiro.
Atualmente muitos pesquisadores defendem que o ser humano tenha surgido em um grupo muito pequeno de hominídeos na África. Esse é um dos grandes debates atuais na área, e está bem longe do consenso. Entretanto, há muitas evidências a favor dessa hipótese, o que leva a maioria dos pesquisadores a inclinar-se a favor dela.
É uma hipótese muito interessante para os católicos pois adequa-se muito bem ao texto bíblico do Gênesis e às interpretações que o Magistério da Igreja fez das passagens da Criação. A grande preocupação do Magistério da Igreja não é defender a literalidade do texto do Gênesis, mas a questão da existência real de Adão e Eva e também do Pecado Original, que são dogmas de fé.
Ou seja, a Igreja não pretende defender que a narrativa da criação do homem por Deus seja literal, que tenha acontecido exatamente como está descrito na Bíblia. A Igreja ensina que a narrativa bíblica nos traz elementos fundamentais para nossa fé, no sentindo de que não podem ser abandonados jamais e que qualquer que seja a teoria científica mais aceita para explicar a origem do homem, ela deve ser conciliável às verdades de fé. A tarefa de conciliação não é dos cientistas, mas dos exegetas que interpretam o texto bíblico. A palavra final é do Magistério.
Portanto, se a hipótese mais aceita para a origem do homem (surgiu num pequeno grupo na África há 250 mil anos) estiver correta, a conciliação com a Bíblia não será complicada, pois esta hipótese adequa-se relativamente bem à existência real de Adão e Eva e ao Pecado Original. Deus contou com a evolução nos seus planos de criar o homem e quando havia um animal com condições de abrigar a alma, Deus lhe soprou a alma e esta criatura se tornou o ser humano.
A infusão da alma deu ao novo humano algo que o antigo animal não tinha, a razão. Com a razão e a capacidade cerebral e corporal do recém criado Adão, foi-lhe possível dominar sobre todos os outros hominídeos e expandir pelo planeta inteiro, dando origem, então, à História da humanidade e da relaçõe do homem com Deus.

07/2015

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